Saber Falar - Linguagem e Neurobiologia
- Karitas Ribas
- 25 de out. de 2014
- 3 min de leitura
Por Karitas Ribas
http://portal.abtd.com.br/Portal/1621/artigo/Saber-Falar--Linguagem-e-Neurobiologia.html - Data da Publicação: 09/10/2013
As organizações necessitam de profissionais que coordenem suas ações a partir de um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que proporcionem a estas o resultado desejado. Para que esse objetivo seja atingido treinam seus colaboradores para o desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais, sendo que as últimas normalmente estão intimamente ligadas ao desenvolvimento de competências relacionais.
Se voltarmos nosso olhar para desenvolvimento de competências relacionais, percebemos que as organizações elaboram planos de ação (PA) que incluem programas de treinamento e desenvolvimento abordando uma extensão de temas, que são escolhidos mediante intepretação dos gestores sobre as necessidades de suas equipes, que podem ser inferidas de relatórios comumente utilizados pelas organizações, como por exemplo a pesquisa de clima organizacional. Dos temas mais comumente solicitados podemos exemplificar a liderança, motivação, comunicação, produtividade, trabalho em equipe e feedback, entre outros.
Esses treinamentos tem a intenção de gerar uma aprendizagem que culmine no desenvolvimento de uma competência distintiva da organização, que possa ser reconhecida como diferenciadora e que conceda vantagens em seu operar.
Essas mesmas organizações tem grandes preocupações com estratégias que garantam sua sobrevivência. Possuem recursos financeiros limitados e escassos para investimentos na capacitação humana e além disso, o fator tempo nunca pode ser deixado de lado.
Não podemos pensar treinamento sem pensarmos no desenvolvimento das pessoas envolvidas e esse desenvolvimento além de estar à serviço das organizações, precisam também estar à serviço das pessoas envolvidas no processo para que seja efetivo e sustentável, pois o contrário seria estreitar e limitar a visão da organização como um todo.
Nos meios organizacionais, pensamos que cada vez que utiliza-se uma determinada palavra ou expressão no cotidiano do trabalho, que a mesma imediatamente será compreendida, ou seja, terá o mesmo significado, fará sentido, para todos aqueles que compartilham da mesma cultura, idioma e fazem parte da mesma comunidade biolinguística.
Infelizmente nem sempre é assim. Os constantes desentendimentos, a competição que pressupõe o fracasso do outro, as desqualificações verbais, a dominação que subjuga, o não reconhecimento e os jogos de poder muitas vezes nos mostram um mundo árido de convivência e de compartilhamento de sentido.
Talvez haja outro caminho para compreendermos a comunicação humana através dos questionamentos: "a partir de onde eu falo o que eu falo?" e "a partir de onde o outro fala o que ele fala?". Esses questionamentos, apesar de simples, podem levar a caminhos perceptivos diferentes, onde seja possível fazer distinções entre a forma como nos emocionamos e a expressão dessa emocionalidade num domínio dito racional.
É preciso levar em consideração que o que cada indivíduo expressa através da fala é uma das últimas instâncias de um entrelaçamento do emocional com o racional, onde as disposições e inclinações corporais, e portanto deflagradoras dos afetos, tem um peso bastante considerável, que a cultura ocidental nem sempre têm se mostrado disposta a reconhecer.
Apesar de muitas vezes as soluções nos parecerem óbvias, na maioria das vezes elas são óbvias intelectualmente e muito difíceis de serem colocadas em prática, o que pode parecer uma contradição. Ao usarmos a comunicação como linha mestra no planejamento dos treinamentos corporativos damos a possibilidade de encadearmos aprendizados numa espiral que nos leva à profundidade, pois as formas como o fluxo da comunicação segue serão revistos, revisitados continuamente, sendo recursivamente conectados ao sentido e ao significado do que estamos fazendo, de nossa praxis.
É possível com a opção pelo foco na linguagem obtermos os benefícios da prática contínua, além de podermos esclarecer dúvidas à qualquer momento. Não precisamos esperar pelo "momento certo" e nem desistirmos da questão pois o momento já passou.
A recursividade da linguagem faz o papel de um elo que impedem que os conteúdos se percam ou se dispersem pelo excesso e pode ser o suporte da geração do sentido, de sabermos o porque de determinado tema e como ele se encaixa no todo, pois o conhecimento deixa de ser útil quando é somente abstrato e não fomenta uma prática que possibilite a mudança daqueles que fazem uso dele, não produza algo no mundo real.

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